Branding, propósito e sustentabilidade. O DNA da marca Veja/Vert
A marca é francesa, mas com um pé tupiniquim.
Fundada em 2004, a marca VEJA, distribuída no Brasil desde 2013 com o nome
VERT, nasceu com propósitos do novo milênio, trabalhando seu DNA ligado aos
valores e pilares da sustentabilidade, sendo considerada uma das marcas mais
preocupadas com a forma como seus produtos são fabricados e comercializados no
mundo.
Inovação, comércio justo, desenvolvimento social, transparência e upcycling (reutilização de materiais) são temas fundamentais para marca que é produzida no Brasil há mais de 15 anos e distribuída para mais de 60 países, e que hoje são responsáveis diretos pelo desenvolvimento de comunidades produtivas em diferentes regiões do país, fomentando o desenvolvimento social, econômico e cultural destas regiões brasileiras.
Inspiramais: Conte um pouco da história da marca, fundamentos, princípios deste
projeto e a relação de vocês com o Brasil?
A VEJA surgiu em 2004 e nossa intenção sempre foi
criar modelos de tênis que pudessem ser usados em todas as ocasiões e que agradassem
ao maior número de pessoas. Sempre tivemos paixão por modelos clássicos e
atemporais e você pode notar isso no design urbano e minimalista das nossas
coleções.
No Brasil encontramos todo o necessário para começarmos,
matérias primas, fábricas estruturadas e mão de obra responsável socialmente e
com qualidade. No início tivemos que acreditar e provar que é possível
desconstruir o conceito da indústria da moda. Muitas fábricas e fornecedores
tentaram nos fazer desistir, mas criar algo original, com persistência e sobre
os pilares da sustentabilidade devem ser a base de construção das novas marcas
nos mais diversos setores.
O posicionamento também se torna natural quando você tem uma mensagem de valor
além do produto. A conexão da empresa/marca com seu público simplesmente
acontece.
Em 2013 iniciamos também a operação comercial no Brasil, com a marca VERT. A relação entre as equipes França e Brasil é ótima. No geral a equipe é multicultural e gostamos bastante desta mistura.
Inspiramais: Qual é o estilo de consumidor que a marca busca e por quê?
Conhecemos muitas pessoas ligadas ao design, arquitetura, artes diversas,
culinária e consumo consciente e sustentabilidade. Mas não existe um esforço da
marca na busca de um público específico. Preferimos ser mais democráticos e
abrir a possibilidade para todos que se interessarem pelo projeto. No
geral existe um público crescente e mais consciente em relação ao consumo
que até está disposto a pagar mais por um produto com valores mais
sofisticados. Infelizmente a grande maioria não tem essa consciência ou não
pode realmente pagar mais por causa da estrutura de baixos salários da
sociedade brasileira.
Inspiramais: Hoje a palavra colaboração está muito forte, vocês já fazem isso a
algum tempo, quais foram os parceiros de vocês nessa caminhada? A
iniciativa sempre partiu da marca?
As colaborações aconteceram por encontros com pessoas e marcas que
gostamos. Já fizemos colaborações internacionais com (marcas como)
Lemaire, G Kero, Bellerose e a mais recente com Rick Owens. No Brasil,
colaborações com (marcas como) Alexandre Herchcovitch, Mixed, Uma, Lenny
Niemeyer, Foxton, entre outras.
Inspiramais: Sobre a parceria com Rick Owens, especialmente, como foi a criação
e o desenvolvimento deste projeto?
Tudo começou quando percebemos uma compra grande feita pelo próprio Rick
Owens em nosso site na França. Pouco tempo depois, a equipe dele entrou em
contato nos propondo uma colaboração. No início pareceu um pouco estranho
porque era um público de moda que não conhecíamos. Logo percebemos que seria
uma mistura de mundos tão diferentes, mas que faria sentido. Inclusive porque o
próprio Rick Owens está buscando um novo conceito para suas criações. Já
caminhamos para a terceira edição com bastante sucesso.
Inspiramais: O que a marca não abre mão na hora de
estabelecer um projeto de co-criação?
Hoje analisamos uma série de fatores, como: posicionamento da marca ou
estilista; postura em relação ao mercado de moda no que faz referência às
escolhas de materiais, formas de fabricação, métodos conscientes de produção.
Relação da marca com sustentabilidade, público seguidor,
força comercial, entre outras.
Algo importante a citar é sobre o grau de intervenção feito
nos nossos modelos. Não permitimos uma intervenção que modifique muito o visual
nem a substituição de matérias-primas, das quais exigimos que sejam de
fornecedores parceiros e que temos conhecimento de origem e boas práticas de
fabricação.
Inspiramais: Qual o impacto destes projetos para marca?
O maior impacto é a repercussão em comunicação e a forma que atingimos um novo
público cada vez que desenvolvemos algo novo.
Inspiramais: Qual foi o impacto de ter Meghan Markle
usando um modelo Veja? foi espontâneo?
Uma maravilhosa surpresa, principalmente pelo o que ela representa. Com certeza
foi um marco na história da marca e aconteceu de forma espontânea. Houve
um ruído nesta informação quando a
matéria saiu, pois foi citado o nosso modelo Esplar, mas na
verdade o modelo que ela escolheu foi o V10.
O Esplar é um modelo que tem o nome em homenagem a ONG que
nos ajuda na compra do algodão agroecológico do Ceará. Por isso
a confusão. O fato é que tudo o que tínhamos em estoque na cor branco com
V preto, nós vendemos. E a procura por essa combinação de cor continuou por
semanas, no mundo todo.
Inspiramais: O futuro caminha para redução de danos a
natureza ou até mesmo desenvolvimentos 100% sustentáveis, como pensam em lidar
com este desafio?
Para nós é algo natural. Quem acompanha o nosso trabalho desde o início
sabe que a cada coleção trazemos um material novo, uma tecnologia inovadora, ou
fazemos melhorias nos materiais e produtos da coleção. Os desafios somos nós
mesmos que os colocamos. Sustentabilidade é um meio em constante transformação
e superação. Não achamos certo dizer 100% sustentáveis, pois nada é
100%. Tentamos ser o melhor que podemos, dentro dos limites
existentes.
Inspiramais: O tema sobre economia circular já é uma realidade na marca?
Na verdade é um tema muito novo para nossa realidade. É muito complicado
agirmos de modo a impactar todos os 60 países em que fazemos a distribuição.
Atualmente temos um projeto em desenvolvimento na França, em que em breve
poderemos fazer os primeiros testes com clientes que poderão retornar com seus
tênis usados para reparos e trocas por outros produtos. Mas ainda é um
piloto.
Inspiramais: A marca já vem trabalhando com uma linha
Vegana, o que podemos esperar deste segmento?
A linha vegana faz parte de uma vontade da empresa em diversificar o uso de
materiais responsáveis, mas sem perder qualidade. Além disso, sabemos que é um
público crescente no mundo todo. Hoje trabalhamos com CWL, um material feito de
milho e algodão e que tem as características visuais do couro. Além da camurça
sintética e da lona de algodão orgânico. O interessante é que apesar de termos
35% da coleção com produtos Veganos e um crescimento de público,
proporcionalmente as vendas destes produtos são inferiores aos produtos de
couro.
Inspiramais: Com o mundo sendo afetado pelo Covid-19, você acredita que surgirão
novos valores no consumidor e nos produtos de moda?
Esse momento é muito novo. Ninguém passou por algo parecido. Porém já existem
alguns movimentos que estão chamando a atenção para a forma de consumo faz
tempo. Acredito que esse movimento vai se fortalecer e para algumas pessoas
essa ficha vai cair e vão entender que é preciso mais responsabilidade na hora
de comprar.
Inspiramais: Falando sobre o futuro, você acredita que ele
pode ser embasado em narrativas conscientes, empatia, propósito e valores
seguros? o que você imagina para o futuro?
Com certeza! A marca foi criada com esses propósitos. Desde sempre tentamos ter
essas narrativas dentro da empresa, antes de qualquer novo projeto. É por isso
que avançamos. Acredito que esse seja o único futuro possível.
Inspiramais: Qual sua mensagem para superar estes tempos
difíceis?
Somos otimistas de que sairemos melhores, mais fortes, mais inspirados na
natureza e mais resilientes.
CONHEÇA MAIS SOBRE A VEJA/VERT: https://www.vert-shoes.com.br/
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Créditos da entrevista: Marnei Carminatti